sábado, 2 de novembro de 2013

Silêncio

Silêncio...como me tens faltado, estes dias!

E como me aprazem estes momentos:
esquecidos do tempo;
perdidos do mundo.

Sem propósito. Sem compromissos. Sem ruído. 

Que regozijo, deixar-me ficar assim: Sozinha. Calada. Quieta.
De peito aberto. Cabeça vazia. A flutuar...

Fecho os olhos, no silêncio, e ouço gritar o coração.




Insónia

Vem em sobressalto. A meio de uma noite bem dormida.
Interrompe os sonhos. Tolhe o conforto. Quebra a paz.

Irrompe medos.
Planta desejos reprimidos.
Desvenda vontades caladas.
…Mistura verdade e ilusão!

Repetem-se imagens. Alucinadas. Encravadas.
Surgem palavras em torrente, que assim se esgotam.
O corpo revolve-se e revolta-se.
O escuro é absoluto. A ansiedade cortante.

A realidade é demasiado confusa.
...As razões e os porquês misturam-se com as fronhas e os cobertores.


Leão

Vínhamos a caminho de casa, depois de um jantar não programado a meio da semana: para fugir à rotina e aliviar o stress. Depois de uma garrafa de vinho as conversas fluem-nos sempre mais sinceras, mais espontâneas. Falávamos de mim e te ti. Disseste-me que gostarias de perceber como é que os outros te vêem...e eu tenho esta mania de pensar demais, tu sabes...

...Tu és um Leão!
Selvagem. Sagaz.
Impulsivo. Instintivo e intuitivo.
E não é só quando te queres fazer parecer. Há realmente muito de felino em ti.

...mas tens também muito de gatinho.
Quando ronronas por carinho atrás da orelha.
Quando vagueias pela casa atrás de mim, sedento de colo e de carinho.
Quando te sentes inseguro e precisas que te incentive e te vanglorie.

Já te disse que és um líder...
De juba armada e peito cheio.

Sempre em vigília.
Pronto a proteger.

... E a atacar, se assim tiver que ser.   

Aprendi que importante é o presente. Sempre.
E percebi que na maior parte das vezes, tudo está como deveria estar.

Aprendi sobre perdão.
Sobre ironias e amor.
Sobre pessoas.
E erros.
E carácter.


Mas aprendi, sobretudo, sobre mim.
Sobre o que aprecio. O que tolero.

E o que abomino.







Uma estória como qualquer outra

Queria falar de amor.

Queria gritar triunfante que não havias destruído essa faculdade em mim.

Queria provar-te a ti, a mim mesma e ao mundo que fomos só mais uma estória. Que começou e terminou.

Como os dias, como a vida...como qualquer outra estória.

Queria amenizar a dor.
Desvalorizar o sofrimento.
Ser forte, fazendo-me de forte.

...Chorar só quando não houvesse outro escape.

Queria acreditar e fazer-te acreditar que conseguimos tudo o que queremos.
Que com perseverança e determinação alcançamos tudo aquilo a que nos propusermos.

...Só mais tarde é que fui perceber. Só quando entendi que não havia como fugir, é que pude entender...

Que um coração ferido não é brincadeira nenhuma.
Que não há força nem vontade que acelere a sua cicatrização.
Que há lesões tão profundas, que o afetam irreversivelmente.

Que desvalorizar a dor, só retarda, perpetua o sofrimento.
Que os danos que me causaste são mais sérios do que possas imaginar...