sábado, 2 de junho de 2012

Meu (e)terno amigo...

Não sou católica.
Não frequento a igreja. Exceto quanto tem mesmo que ser.

Não gosto que passagens biblícas utilizadas para descrever momentos e sentimentos que são únicos.
Não gosto de padrões para retratar emoções.

Mas numa dessas forçosas visitas à igreja, um padre disse algo que nunca esquecerei: explicou que a única forma de imortalizarmos alguém, é mantê-lo vivo, na nossa memória. E na memória de quem nos rodeia.

... E assim tenho feito.

Tenho-te comigo, sempre.
E quem me conhece. Quem me conhece verdadeiramente, conhece-te a ti também.

Não é um ato em consciência.
Não é uma prova que te quero dar.
É uma necessidade.

Porque Eu, também sou Tu.
E isso, nada - nem o tempo, nem a tua auência física, terrena - podem mudar.

Falo de ti, porque continuas presente.
Mentiria se dissesse que estas presente como no dia em que partiste.

Não.
Um ser humano não aguenta tanto sofrimento, durante tanto tempo.

Temos que aprender a calar a dor. A revolta.
Temos que aprender a transformar os sonhos. A saudade.

E isso não se consegue guardando as memórias.

No meu caso, só consigo fazê-lo, partilhando-as.
Fazendo-as acontecer de novo.
Revivendo-as de cada vez que as divido com alguém.

Eras o meu herói.
Não. Não!
És o meu herói.

Desde que te conheci - e desde que me conheço a mim - que queria ser como tu.

Ouvíamos música da pastilha tão alta que só por sorte não chegámos a rebentar os vidros do teu quarto.
Tu dizias que era fixe. Que tinha passagens incríveis.
Ouvia-la nas raves.

E eu não percebia nada disso.
Ouvia-a só porque tu gostavas.
Embora preferisse os Onda Choc...

Bebíamos coca-cola com gelo e limão e conversávamos sobre os nossos sonhos.
E no auge dos meus doze anos, isso era uma coisa muito cool de se fazer.

Dedicaste-te a mim como mais ninguém tinha feito.
Contigo eu não era uma menina de doze anos e tu um jovem de vinte e pouco.

Eramos dois amigos.
Sem idades.
Sem barreiras.

Tu não te importavas que eu pudesse correr.
E andar de patins.
E voar, se tivesse vontade!

E eu não me importava nada de te ajudar a vestir ou de, de vez em quando, te empurrar a cadeira de rodas.

Tu eras assim.
E eu nem sequer desejava que fosses diferente.

Respeitava-te. Admirava-te. Amava-te, assim como eras.
E sentia que, sobretudo, tu me respeitavas e me consideravas, como mais ninguém.

 A verdade é que não sei se me tornei parecida contigo.
Até gosto de techno/house music, mas só numa noite daquelas de desgraça...

Mas nunca mais voltei a ignorar a diferença.
Afinal, foi ela quem te levou.

Estudei e convivo, todos os dias, com pequenas diferenças.
Luto para amenizá-las.
Mas acho que nem sempre consigo.
...

Daria meia dúzia de anos da minha vida para me sentar contigo no quintal da avó.

Nós.
O mesmo sol dos verões que lá passei em casa.
E dois copos de coca-cola com gelo e limão.

Queria conversar contigo.
Falar-te das minhas vitórias. Das minhas derrotas.
Dos meus sonhos e das pessoas que são importantes para mim.

Queria que me conhecesses, agora que sou mais eu.
Queria que te pudesses orgulhar de mim, como eu me orgulho de ti!

Fazes-me tanta falta...