sábado, 30 de outubro de 2010

só Tu

Chove.
E chove cá dentro, como lá fora.

Ouve-se o vento. Só.
A televisão está desligada, os livros dispostos na estante.

Coloco uma música, baixinho.
Calço as meias mais quentes e pego numa caneca de chá, que esfumaça pelo quarto.

Aconchego-me em mim mesma.
Perdida. Esquecida. Mas mais perto de mim.

Envolvo-me. Revolvo-me.
Encolho-me, pra me sentir livre.

Fecho os olhos. Penso em ti. Em como me prendi.

Tremo.
Se me faltares, falta-me o chão.
E temo.

Não planeei isto. Não escolhi amar-te. Aconteceu.
Foi de repente. Ou então não.
Acho que esperei por ti a vida inteira.

Imaginei-te, ainda antes de te conhecer.
Desenhei-te as qualidades. Escolhi-te os defeitos.
Eras tu. Sempre foste tu.

Por isso mesmo, não te consegui largar.
Risquei tudo. Mudei de planos. Mudei de vida. Quis escrever de novo.

Compensaste o risco. Cada dia. Cada minuto. Cada sorriso.

Dei-te a mão. Dei-te o corpo. Dei-te a alma. Dei-te tudo.
E tu devolves-me. Constróis-me. Todos os dias.
Mais brilhante, mais inteira, mais gigante.

E todos os dias, para poder voar, prendo-me mais um pouco.
Eu, que sempre me quis tão independente!

E isso assusta-me, sabes?
Destruíste-me as muralhas. Despiste-me as armaduras. Desarmaste-me.

Cuidaste de mim. E eu gostei.
Demasiado...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Como eu e tu.

Somos o avesso um do outro: iguais por fora, o contrário por dentro. Tu proteges-me, acalmas-me, ouves-me e ajudas-me a parar. Eu puxo por ti, sacudo-te e ajudo-te a avançar.

Como duas metades teimosas.