terça-feira, 8 de junho de 2010

O meu velho amigo Ferry

O Ferry era o meu cão, o meu irmão mais novo, o meu melhor companheiro e mais fiel amigo. E nunca precisámos de conversar. Às vezes, muito poucas, eu dizia-lhe duas ou três coisas que me preocupavam e ele respondia-me com um olhar ou um suspiro e eu percebia o que ele me queria dizer; que o mundo poder ser um lugar difícil, mas, se formos bons, a vida traz-nos as pessoas certas que nos podem proteger e cuidar de nós. E que o importante é não complicar, ter tempo para descansar e brincar, seja qual for a nossa idade ou profissão.
O Ferry ensinou-me a amar o silêncio e a respeitar o silêncio dos outros. Mas também me ensinou a atacar de forma letal os meus inimigos, a ser grato a quem me quer bem e a lamber as feridas longe dos outros.
Morreu envenenado e deixou um vazio na minha vida.
Nunca esquecemos aqueles que amamos, nunca deixamos de amar aqueles que nos amaram, nunca perdemos a sabedoria que nos legaram, nunca deixamos de ter saudades daqueles que mudaram a nossa vida.
E é por isso que quando escondes a cabeça abaixo do meu ombro direito e dizes em voz muito baixa e temperada, com riso e embaraço, que se calhar te estás a apaixonar por mim, fico calada para que me oiças melhor e penso que sou uma pessoa cheia de sorte.
O Ferry tinha razão; a vida nem sempre é fácil e o mundo pode ser um lugar vil e torpe onde há homens que têm prazer em mutilar crianças e envenenar cães, mas se formos bons, a vida traz-nos as pessoas certas que nos podem proteger e cuidar de nós.
E tu, já fazes parte da minha vida.

Margarida Rebelo Pinto